terça-feira, 30 de novembro de 2010
Mario Monicelli morto suicida a Roma
MILANO - Un volo dal quinto piano dell'ospedale San Giovanni di Roma. Scompare così Mario Monicelli, ultimo grande maestro del cinema italiano. Il regista si è ucciso lanciandosi, intorno alle 21 di lunedì sera, dal reparto di urologia dell'ospedale San Giovanni di Roma, dove era ricoverato da domenica. Il cineasta aveva 95 anni e soffriva di un tumore alla prostata. Il corpo di Monicelli è stato trovato dal personale sanitario dell'ospedale a terra, disteso nei viali vicino alle aiuole, a pochi metri dal pronto soccorso.
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sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Sacolinha bancará "Templo de Salomão" em SP
Edir Macedo, dono da IURD e da TV Record, entre outros empreendimentos, lançou no último domingo a pedra fundamental da nova sede mundial de sua igreja.
Localizada no Brás, região central de São Paulo, a igreja será uma réplica do Templo de Salomão de Jerusalem.
O novo templo de Macedo terá 12 andares (55 metros de altura), 2 subsolos e capacidade para 10 mil pessoas sentadas. A obra está orçada em R$ 200 milhões e deve ser concluída até 2014.
Em seu blog, Edir Macedo ressalta que a nova sede da IURD vai "superar o maior templo da Igreja Católica" de São Paulo, a Catedral da Sé.
O roto e o rasgado
Paulo Henrique Amorim e outros ex-jornalistas da Globo adoram dizer que a Record é uma excelente alternativa à perversa hegemonia da "vênus platinada". Também devem estar orgulhosos do empreendedorismo do patrão no terreno da fé, que deve estar tirando o sono da milenar corporação capitaneada pelo cardeal Ratzinger.
Não gosto da platinada, tampouco da dourada. Não gosto do Bento, tampouco do Macedo. Temo ambos.Atualmente, mais o dono da IURD.
Grandes malucos beleza: Jayme Ovalle
Sentado à mesa de um café carioca, o poeta Manuel Bandeira ouviu: “Seu Schimidt, vá por mim! Aquele sujeito é do exército do Pará”. A afirmação vinha de Jayme Ovalle, que, dirigindo-se ao poeta Augusto Frederico Schimidt, tecia uma complexa teoria, a Nova Gnomonia.
Conhecido por passar graxa no cabelo e ter conversas com o anjo da guarda no meio da rua, o compositor paraense influenciou gerações de intelectuais, a começar pelo próprio Bandeira, que mais tarde lhe dedicaria o Poema Só para Jayme Ovalle.
Naquela tarde, Bandeira acompanhou o desenrolar da teoria que o compositor expunha no bar. E tratou de registrá-la em uma crônica que movimentou a intelectualidade brasileira dos anos 1930. Nela, relata a classificação dos tipos humanos em cinco categorias, de acordo com Ovalle:
Exército do Pará: formado por “esses homenzinhos terríveis que vêm do Norte para vencer na capital da República”. Hábeis, buscam o “sucesso material, ou a glória literária, ou o domínio político”.
Dantas: “são homens de ânimo puro, nobres e desprendidos, indiferentes ao sucesso da vida. Toda gente quer ser Dantas.”
Kernianos: “impulsivos por excelência. Apesar de terem bom coração, se deixam arrastar à prática dos atos mais condenáveis.”
Mozarlescos: tipo de gente que dá aos observadores “uma impressão de coisas consideráveis, o que, no entanto, não corresponde o conteúdo das suas palavras ou das suas ações”.
Onésimos: quando um deles aparece, duvida, sorri, desaponta. Sofrem de um drama íntimo: não encontrar nunca uma finalidade na vida.
Da Nova Gnomonia, Vinicius de Moares – que herdou do amigo Ovalle o costume de falar no diminutivo – escreveu: Constitui a grande contribuição do Brasil à filosofia do conhecimento do universo.
Instado a dizer se pertencia ao Exército do Pará, o escritor Graciliano Ramos desconversou: “Está claro que existe um ‘Exército do Pará’. Na maioria dos casos, porém, os seus milicianos já chegam feitos do Norte. E, no Rio, em geral definham, tornam-se mofinos. Ignoro se também sou ‘Pará’. Nunca fiz coisa que prestasse, mas ainda assim o pouco que fiz foi lá e não aqui”.
Mais do que contribuições como a teoria da Nova Gnomonia, 33 músicas (entre elas Azulão, com Manuel Bandeira) e poemas em inglês – idioma que não dominava –, a grande criação de Ovalle foi a própria vida, contada no livro O Santo Sujo – A vida de Jayme Ovalle, de Humberto Werneck. Entre a paixão (e a traição) por uma pomba, as discussões com Deus e o trabalho como funcionário público exemplar, lia a Bíblia fazendo anotações. Pretendia reescrevê-la.
Fonte:Crônicas da Província do Brasil, de Manuel Bandeira (Cosac Naify, 2006)
Conhecido por passar graxa no cabelo e ter conversas com o anjo da guarda no meio da rua, o compositor paraense influenciou gerações de intelectuais, a começar pelo próprio Bandeira, que mais tarde lhe dedicaria o Poema Só para Jayme Ovalle.
Naquela tarde, Bandeira acompanhou o desenrolar da teoria que o compositor expunha no bar. E tratou de registrá-la em uma crônica que movimentou a intelectualidade brasileira dos anos 1930. Nela, relata a classificação dos tipos humanos em cinco categorias, de acordo com Ovalle:
Exército do Pará: formado por “esses homenzinhos terríveis que vêm do Norte para vencer na capital da República”. Hábeis, buscam o “sucesso material, ou a glória literária, ou o domínio político”.
Dantas: “são homens de ânimo puro, nobres e desprendidos, indiferentes ao sucesso da vida. Toda gente quer ser Dantas.”
Kernianos: “impulsivos por excelência. Apesar de terem bom coração, se deixam arrastar à prática dos atos mais condenáveis.”
Mozarlescos: tipo de gente que dá aos observadores “uma impressão de coisas consideráveis, o que, no entanto, não corresponde o conteúdo das suas palavras ou das suas ações”.
Onésimos: quando um deles aparece, duvida, sorri, desaponta. Sofrem de um drama íntimo: não encontrar nunca uma finalidade na vida.
Da Nova Gnomonia, Vinicius de Moares – que herdou do amigo Ovalle o costume de falar no diminutivo – escreveu: Constitui a grande contribuição do Brasil à filosofia do conhecimento do universo.
Instado a dizer se pertencia ao Exército do Pará, o escritor Graciliano Ramos desconversou: “Está claro que existe um ‘Exército do Pará’. Na maioria dos casos, porém, os seus milicianos já chegam feitos do Norte. E, no Rio, em geral definham, tornam-se mofinos. Ignoro se também sou ‘Pará’. Nunca fiz coisa que prestasse, mas ainda assim o pouco que fiz foi lá e não aqui”.
Mais do que contribuições como a teoria da Nova Gnomonia, 33 músicas (entre elas Azulão, com Manuel Bandeira) e poemas em inglês – idioma que não dominava –, a grande criação de Ovalle foi a própria vida, contada no livro O Santo Sujo – A vida de Jayme Ovalle, de Humberto Werneck. Entre a paixão (e a traição) por uma pomba, as discussões com Deus e o trabalho como funcionário público exemplar, lia a Bíblia fazendo anotações. Pretendia reescrevê-la.
Fonte:Crônicas da Província do Brasil, de Manuel Bandeira (Cosac Naify, 2006)
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
A insustentável leveza do ser: Person
Luiz Sérgio Person nasceu em 1936.
Aos 21 anos abandonou o curso de direito no último semestre e, ao lado de Antunes Filho e Flávio Rangeu, fundou o Teatro Paulista de Câmara. No mesmo ano lançou a revista de cinema Sequência, na qual era redator, editor e diagramador.
Após uma estréia frustrada no cinema, abandonou o meio artístico e passou a administrar uma empresa da família, a Person Bouquet.
Insatisfeito com o mundo empresarial, partiu para a Itália no início da década de 60,estudando cinema na Cinecittá di Roma. Lá, teve contato com os diretores da Nouvelle Vague.
De volta ao Brasil, dirigiu "São Paulo Sociedade Anônima" (1963) e "O caso dos irmãos Naves" (1967), dois clássicos do cinema nacional.
Na frente das câmeras atuou em vários filmes, como "O estranho mundo de Zé do Caixão (1967).
Morreu em 1976, um mês antes de completar 40 anos, em um acidente de carro a caminho de Ubatuba.
Aos 21 anos abandonou o curso de direito no último semestre e, ao lado de Antunes Filho e Flávio Rangeu, fundou o Teatro Paulista de Câmara. No mesmo ano lançou a revista de cinema Sequência, na qual era redator, editor e diagramador.
Após uma estréia frustrada no cinema, abandonou o meio artístico e passou a administrar uma empresa da família, a Person Bouquet.
Insatisfeito com o mundo empresarial, partiu para a Itália no início da década de 60,estudando cinema na Cinecittá di Roma. Lá, teve contato com os diretores da Nouvelle Vague.
De volta ao Brasil, dirigiu "São Paulo Sociedade Anônima" (1963) e "O caso dos irmãos Naves" (1967), dois clássicos do cinema nacional.
Na frente das câmeras atuou em vários filmes, como "O estranho mundo de Zé do Caixão (1967).
Morreu em 1976, um mês antes de completar 40 anos, em um acidente de carro a caminho de Ubatuba.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Capitalismo verde é sujeira: Marina e Gabeira
Por Gilberto Felisberto Vasconcellos
Agora todo mundo capitalista deu para ser verde.
A General Eletric prega a “ecoimaginação”, ou este oxímoro insano: “carvão limpo”. Na propaganda ela põe um elefantão cantando “Singing in the rain”.
O barão da mídia, Murdoch, que está louquinho para derrubar Chávez, declarou: “sinto orgulho de ser verde”.
É impossível existir capitalismo sem toxina.
A mistificação do capitalismo verde é reproduzida por aqui com Gabeira e Marina. Como é que alguém a favor do lucro capitalista evangélico pode falar em natureza? A única coisa verdecoevangélica que existe é a nota verde do dólar.
Marina é pró-capitalismo, portanto é antiecológica. Seus assessores almofadinhas e janotas são udenistas e tucanos de corpo e finanças, portanto contra a minhoca, o arado natural, Eles são entusiastas da Monsanto que inventou o herbicida round up devastador da natureza e que financia a biotecnologia e a engenharia genética.
Marina, me dizia Marcelo Guimarães, não moveu uma palha pelo projeto das micro-destilarias a álcool em pequenas propriedades; agora ela se diz devota do álcool e óleos vegetais, só que produzidos em economia de escala com plantation latifundiária para exportação multinacional.
Marina é adversária da reforma agrária radical, portanto joga no time do ecocídio, Serra batalhou pela aprovação da lei das patentes para felicidade das grandes corporações multinacionais na Câmara e Senado.
A agricultura capitalista multinacional arruína a terra e envenena as pessoas. Tudo isso sob o comando dos grãos geneticamente manipulados pela Monsanto, que é a Rede Globo da agricultura.
A juventude não poderá cair na esparrela agrobiocancerigenotucano. O descalabro da natureza é causado pelo regime social chamado capitalismo, por conseguinte crítica ecológica que não seja anticapitalista é conversa de urubu com bode.
E Gabeira? É a ideologia pós-moderna do Banco Mundial em ação, que no Rio de Janeiro é a expressão da burguesia comercial e imobiliária, de onde provêm Carlos Lacerda e César Maia.
Nunca entendi a notoriedade de Gabeira. Chegou da Suécia de tanguinha de crochê na praia pousando de “candidato jovem” pré-Collor para destruir os CIEPs de Darcy Ribeiro.
Glauber Rocha tinha a maior bronca dele porque queria tacar fogo no filme Terra em Transe. Glauber dizia que a ambição de Gabeira era freqüentar a casa de Caetano Veloso, que convenhamos não é o barraco de Goethe.
Glauber escreveu: “traíram Jango em 1964 e 1974, destruíram o projeto de nação que ficou no esqueleto do Gabeira”.
Sobre as flores do estilo, pergunto quem foi o gênio linguista que bolou o mote gerundiano da campanha de Dilma? Refiro-me à palavra de ordem: “Para o Brasil seguir mudando”. Que coisa feia. É isso que dá colocar campanha política em agência de publicidade.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é sociólogo, jornalista e escritor.
Fonte: Caros Amigos
Agora todo mundo capitalista deu para ser verde.
A General Eletric prega a “ecoimaginação”, ou este oxímoro insano: “carvão limpo”. Na propaganda ela põe um elefantão cantando “Singing in the rain”.
O barão da mídia, Murdoch, que está louquinho para derrubar Chávez, declarou: “sinto orgulho de ser verde”.
É impossível existir capitalismo sem toxina.
A mistificação do capitalismo verde é reproduzida por aqui com Gabeira e Marina. Como é que alguém a favor do lucro capitalista evangélico pode falar em natureza? A única coisa verdecoevangélica que existe é a nota verde do dólar.
Marina é pró-capitalismo, portanto é antiecológica. Seus assessores almofadinhas e janotas são udenistas e tucanos de corpo e finanças, portanto contra a minhoca, o arado natural, Eles são entusiastas da Monsanto que inventou o herbicida round up devastador da natureza e que financia a biotecnologia e a engenharia genética.
Marina, me dizia Marcelo Guimarães, não moveu uma palha pelo projeto das micro-destilarias a álcool em pequenas propriedades; agora ela se diz devota do álcool e óleos vegetais, só que produzidos em economia de escala com plantation latifundiária para exportação multinacional.
Marina é adversária da reforma agrária radical, portanto joga no time do ecocídio, Serra batalhou pela aprovação da lei das patentes para felicidade das grandes corporações multinacionais na Câmara e Senado.
A agricultura capitalista multinacional arruína a terra e envenena as pessoas. Tudo isso sob o comando dos grãos geneticamente manipulados pela Monsanto, que é a Rede Globo da agricultura.
A juventude não poderá cair na esparrela agrobiocancerigenotucano. O descalabro da natureza é causado pelo regime social chamado capitalismo, por conseguinte crítica ecológica que não seja anticapitalista é conversa de urubu com bode.
E Gabeira? É a ideologia pós-moderna do Banco Mundial em ação, que no Rio de Janeiro é a expressão da burguesia comercial e imobiliária, de onde provêm Carlos Lacerda e César Maia.
Nunca entendi a notoriedade de Gabeira. Chegou da Suécia de tanguinha de crochê na praia pousando de “candidato jovem” pré-Collor para destruir os CIEPs de Darcy Ribeiro.
Glauber Rocha tinha a maior bronca dele porque queria tacar fogo no filme Terra em Transe. Glauber dizia que a ambição de Gabeira era freqüentar a casa de Caetano Veloso, que convenhamos não é o barraco de Goethe.
Glauber escreveu: “traíram Jango em 1964 e 1974, destruíram o projeto de nação que ficou no esqueleto do Gabeira”.
Sobre as flores do estilo, pergunto quem foi o gênio linguista que bolou o mote gerundiano da campanha de Dilma? Refiro-me à palavra de ordem: “Para o Brasil seguir mudando”. Que coisa feia. É isso que dá colocar campanha política em agência de publicidade.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é sociólogo, jornalista e escritor.
Fonte: Caros Amigos
Nem parece banco
Há anos os bancos não param de bater seus próprios recordes de lucratividade.
O Itaú Unibanco, maior banco privado brasileiro, encerrou o primeiro semestre com lucro líquido de R$ 6,4 bilhões - 39,6% maior que no mesmo período do ano passado.
São lucros obscenos, viabilizados pelo também obsceno modelo de financiamento das campanhas eleitorais.
E o pior é que, dentre os candidatos ao Planalto, não há sequer um nanico com um projeto consistente de reforma política.
O Itaú Unibanco, maior banco privado brasileiro, encerrou o primeiro semestre com lucro líquido de R$ 6,4 bilhões - 39,6% maior que no mesmo período do ano passado.
São lucros obscenos, viabilizados pelo também obsceno modelo de financiamento das campanhas eleitorais.
E o pior é que, dentre os candidatos ao Planalto, não há sequer um nanico com um projeto consistente de reforma política.
Terra em transe
segunda-feira, 19 de julho de 2010
A insustentável leveza do ser: Massimo Troisi
Massimo Troisi nasceu em 1953, na pequena San Giorgio a Cremano, localizada a 4 km de Nápoles.
Em 1977, passou a fazer parte de um trio cômico chamado "La Smorfia", que tornou-se famoso em toda a Itália.
Em 1985 atuou ao lado de Roberto Benigni em "Non ci resta che piangere". No filme, os personagens interpretados por Troisi e Benigni são transportados, por acaso, para o século XVI. Lá eles encontram com Leonardo da Vinci e, quando se dão conta da época em que estão, decidem ir até a Espanha para evitar que Cristóvão Colombo descubra a América.
Em 1994 foi protagonista, ao lado de Philip Noiret, de um clássico da história do cinema: O carteiro e o poeta (Il postino).
Pouco depois de ter encerrado as filmagens de O carteiro e o poeta, Troisi morreu em decorrência de um infarto. Tinha 41 anos.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Eleições 2010: Odorico na cabeça!
Estão lançados os dados para as eleições 2010. Orientados pelos marqueteiros, os candidatos se adaptam ao paladar do eleitor de Pindorama. Sempre foi assim.
Jânio comia pão com mortadela e andava com o paletó cheio de caspa para ser visto como um homem comum.
Quércia pedia para tirar um cochilo na cama do eleitor, para criar intimidade.
FHC se dizia mulatinho.
Mas em matéria de marketing político, ninguém superou Odorico, O Bem Amado. Veja
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Indio do Demo quer apito no Arraial dos Tucanos
Desde pequeno ouço que o salário mínimo deveria valer pelo menos US$ 100, e que o brasileiro tem memória curta.
Sob Lula, o salário mínimo vale hoje cerca de US$ 280. Ainda baixo, mas uma belezura quando comparado ao seu valor nos desgovernos anteriores.
Agora, a tal memória do brasileiro parece que continua estagnada.
Quando Sarney sentou no trono sem que Tancredo tivesse sequer a chance de colocar a faixa presidencial, descobrimos - da pior forma possível -, que vice não é decorativo.
Presidentes adoecem. Presidentes enlouquecem. Presidentes morrem. E quem assume é o vice, sem ter recebido um único voto.
E não só presidentes. Serra se candidatou à prefeitura de São Paulo e declarou publicamente que não renunciaria ao mandato para concorrer ao governo. Renunciou, e deixou no seu lugar um inexpressivo afilhado político, sob o qual pairavam acusações de enriquecimento ilícito.
O circo político para as eleições 2010 começou a ser armado, e os principais partidos parecem apostar na falta de memória dos brasileiros, que demonstram ter esquecido dos cinco anos sob Sarney, das patuscadas e pantomimas de Collor e do estelionato Serra-Kassab - entre outras aberrações da história recente.
Dilma de Lula terá como vice Michel Temer, figura de proa - ou nem tanto - do deplorável PMDB de Sarney. Serra do Kassab, depois de gastar o chão de tanto dar voltas em torno do rabo, "escolheu" como vice o deputado Indio do Demo - segundo dizem, por ser o único nas profundezas do Demo, sócio dos tucanos, a não ter a capivara muito longa.
Acho que agora a Regina Duarte tem motivo de sobra para temer o Temer da Dilma e o Indio do Serra e do Kassab. Até eu, que já entreguei a rapadura faz tempo, temo.
Quem vai ganhar o troféu abacaxi?
terça-feira, 29 de junho de 2010
quinta-feira, 24 de junho de 2010
A insustentável leveza do ser - Péricles Maranhão
O desenhista Péricles Maranhão nasceu em 1924, no Recife.
Aos 17 anos foi para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar nos Diários Associados, então a maior rede de comunicação do país.
Em 1943, Péricles criou um dos personagens mais populares da história dos quadrinhos de Pindorama: o Amigo da Onça, publicado na revista O Cruzeiro.
O personagem foi desenhado por Péricles durante quase 20 anos, sendo um dos principais atrativos da revista.
Na noite de 31 de dezembro de 1961, Péricles se suicidou. Vedou todas as portas do apartamento e soltou o gás. Tinha 37 anos.
Deixou um bilhete no qual reclamava da solidão. No lado de fora da porta colou outro, síntese do humor irônico de seu personagem mais popular:
Não risquem fósforos!
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Retrato de uma era
O período em que Dunga defendeu a seleção brasileira de futebol como jogador ficou conhecido como "a era Dunga". Tendo Dunga como símbolo, a seleção conquistou a Copa de 1994 apresentando um futebol feio e burocrático. Era o chamado futebol de resultados, defendido ferrenhamente por outro Dunga, o treinador Carlos Alberto Parreira.
A nomeação de Dunga como técnico da esquadra canarinho demonstrou que a "era Dunga" tem um significado e uma abrangência muito maior do que se poderia supor. O ex-jogador chegou ao comando de uma das principais seleções de futebol do mundo sem nunca ter treinado qualquer outra equipe. No chamado "país do futebol", vários técnicos experientes foram preteridos em favor do iniciante.
E o que credenciou Dunga para o cargo? O que credencia qualquer liderança no universo corporativo. Profissional mediano - como jogador e como técnico -, Dunga chegou ao topo apenas por oferecer fidelidade canina a quem o colocou no cargo - como fez Parreira desde os tempos da ditadura militar.
Com poder e prestígio, Dunga tornou-se o ícone da era que representa. A era da mediocridade, da falta de ética, da subserviência e da tolerância bovina.
Hoje há um Dunga em cada departamento, em cada repartição.
O importante é ganhar jogando feio. Afinal, o jogo já foi perdido há muito tempo.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Grandes malucos beleza: Leon Eliachar
"Nasci no Cairo, fui criado no Rio; sou, portanto, "cairoca". Tenho cabelos castanhos, cada vez menos castanhos e menos cabelos. Um metro e 71 de altura, 64 de peso, 84 de tórax (respirando, 91), 70 de cintura e 6,5 de barriga.
Em 1492, Colombo descobriu a América; em 1922, a América me descobriu. Sou brasileiro desde que cheguei (aos 10 meses de idade), mas oficialmente, há uns dois anos; passei 35 anos tratando da naturalização. Minha carreira de criança começou quando quebrei a cabeça, aos dois anos de idade; minha carreira de adulto, quando comecei a fazer humorismo (passei a quebrar a cabeça diariamente). Tive vários empregos: ajudante de balcão, ajudante de escritório, ajudante de diretor de cinema, ajudante de diretor de revista, ajudante de diretor de jornal. Um dia resolvi ajudar a mim mesmo sem a humilhação de ingressar na Política: comecei a fazer gracinhas — fora da Câmara. Nunca me dei melhor. Meu maior sonho é ter uma casa de campo com piscina, um iate, um apartamento duplex, um corpo de secretárias, um helicóptero, uma conta no banco, uma praia particular e um "short". Por enquanto já tenho o "short".
Sou a favor do divórcio, a favor do desquite e a favor do casamento. Sem ser a favor deste último não poderia ser dos primeiros. Sou contra o jogo, o roubo, a corrupção e o golpe; se eu fosse candidato isso não deixaria de ser um grande golpe.
O que mais adoro: escrever cartas. O que mais detesto: pô-las no Correio. Minha cor preferida é a morena, algumas vezes a loura. Meu prato predileto é o prato fundo. O que mais aprecio nos homens: suas mulheres — e nas mulheres, as próprias. Acho a pena de morte uma pena.
Não sou superticioso, mas por via das dúvidas, evito o "s" depois do "r" nessa palavra. Se não fosse o que sou, gostaria de ser humorista. Trabalho 20 horas por dia, mas, felizmente, só uma vez por semana; nos outros dias, passo o tempo recusando propostas — inclusive de casamento. Acho que a mulher ideal é a que gosta da gente como a gente gostaria que ela gostasse — isso se a gente gostasse dela. Para a mulher, o homem ideal é o que quer casar. Mas deixa de ser ideal logo depois do casamento, quando o ideal seria que não deixasse. Mas isso não impede que eu seja, algum dia, um homem ideal."
Fonte: “O Homem ao Quadrado”, Livraria Francisco Alves/Editora Paulo de Azevedo Ltda., Rio de Janeiro, 1960.
Leon Eliachar foi assassinado na cidade do Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1987. Segundo o noticiário da época, a mando de um rico fazendeiro paranaense com cuja esposa o autor vinha mantendo um romance.
Releituras.com
Um homem admirável
Saramago foi um escritor brilhante, mas sobretudo um homem admirável. Foi coerente durante toda a vida. Manteve sempre acesa a chama da utopia e colocou seu prestígio - e suas ideias - a serviço das causas mais importantes.
Fará muita falta.
Pensar, pensar
José Saramago
Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.
Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008
"O mundo ficou mais burro e cego". Fernando Meireles, sobre a morte de Saramago.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Welton
Em 1998, após uma temporada no Japão, trabalhava em uma assessoria de imprensa e era responsável, entre outros clientes, por uma ong de defesa do consumidor.
Além de oferecer boas pautas aos colegas do outro lado do balcão, o bom assessor deve ter sempre no bolso do colete bons personagens para ter mais chances de emplacar na mídia.
Nem sempre é fácil. E o pior é quando a pauta parte de lá para cá. Já recebi pedidos de personagens tão elaborados que poderiam fazer parte de um romance de Garcia Marquez.
Não foi o que aconteceu naquela tarde de sábado, quando almoçava na casa dos meus sogros. O programa Mais Você, de Ana Maria Braga, havia estreado há poucas semanas e a produtora, que tinha recebido um release meu sobre direitos dos usuários de planos de saúde, resolveu inventar uma pauta mais, digamos, divertida. A moça queria falar sobre cidadãos que sempre reivindicavam seus direitos, independentemente do valor em questão.
Tranquilo, pensei. Na segunda faço um pente fino no meu banco de personagens e encontro alguém. Quando comentei sobre a solicitação com a Isa, minha companheira na época, ela disparou:
- Pô, porque você não coloca o meu pai?!! Ele é exatamente assim.
Welton, meu sogro, era um tremendo boa praça e topou na hora. A entrevista foi gravada na casa dele pelo então repórter Evaristo Costa, hoje apresentador do Jornal Hoje.
Não acompanhei a gravação, mas no final Welton me ligou dizendo que a entrevista havia sido longa, e que tinha ficado ótima.
A matéria foi ao ar alguns dias depois e, em pouco tempo, veio a primeira surpresa. Welton, um mineiro-carioca que vivia em São Paulo há muitos anos, recebeu telefonemas de vários parentes que não via há muito tempo. Os colegas de trabalho comentaram. Meu sogro adorou, mas fez um reparo:
- Eles erraram o meu nome, porra. Colocaram Elton!
Além de ilustrar uma reportagem sobre pessoas que reclamam de tudo, Welton era advogado e não podia deixar de pedir uma retificação. Foi o que fez. Ligou para a produção do programa e comunicou o erro.
No dia seguinte, veio a segunda surpresa. A loira abriu o programa com a imagem do Welton congelada na tela.
- Vocês lembram daquele Sr. da matéria de ontem, que reclama de tudo? Pois é, ele reclamou de novo porque nós erramos o nome dele. Desculpa, seu Welton!
Todos os parentes que não haviam telefonado para o Welton no dia anterior o fizeram naquele dia – a audiência da Globo é inacreditável. Meu sogro ficou muito feliz. E eu também.
Algum tempo depois eu e a Isa nos separemos. Ontem, depois de alguns anos sem notícias dela, soube que Welton morreu em 2008. Desde então, tenho pensado muito nele, e em alguns momentos bacanas que vivemos juntos.
Além de oferecer boas pautas aos colegas do outro lado do balcão, o bom assessor deve ter sempre no bolso do colete bons personagens para ter mais chances de emplacar na mídia.
Nem sempre é fácil. E o pior é quando a pauta parte de lá para cá. Já recebi pedidos de personagens tão elaborados que poderiam fazer parte de um romance de Garcia Marquez.
Não foi o que aconteceu naquela tarde de sábado, quando almoçava na casa dos meus sogros. O programa Mais Você, de Ana Maria Braga, havia estreado há poucas semanas e a produtora, que tinha recebido um release meu sobre direitos dos usuários de planos de saúde, resolveu inventar uma pauta mais, digamos, divertida. A moça queria falar sobre cidadãos que sempre reivindicavam seus direitos, independentemente do valor em questão.
Tranquilo, pensei. Na segunda faço um pente fino no meu banco de personagens e encontro alguém. Quando comentei sobre a solicitação com a Isa, minha companheira na época, ela disparou:
- Pô, porque você não coloca o meu pai?!! Ele é exatamente assim.
Welton, meu sogro, era um tremendo boa praça e topou na hora. A entrevista foi gravada na casa dele pelo então repórter Evaristo Costa, hoje apresentador do Jornal Hoje.
Não acompanhei a gravação, mas no final Welton me ligou dizendo que a entrevista havia sido longa, e que tinha ficado ótima.
A matéria foi ao ar alguns dias depois e, em pouco tempo, veio a primeira surpresa. Welton, um mineiro-carioca que vivia em São Paulo há muitos anos, recebeu telefonemas de vários parentes que não via há muito tempo. Os colegas de trabalho comentaram. Meu sogro adorou, mas fez um reparo:
- Eles erraram o meu nome, porra. Colocaram Elton!
Além de ilustrar uma reportagem sobre pessoas que reclamam de tudo, Welton era advogado e não podia deixar de pedir uma retificação. Foi o que fez. Ligou para a produção do programa e comunicou o erro.
No dia seguinte, veio a segunda surpresa. A loira abriu o programa com a imagem do Welton congelada na tela.
- Vocês lembram daquele Sr. da matéria de ontem, que reclama de tudo? Pois é, ele reclamou de novo porque nós erramos o nome dele. Desculpa, seu Welton!
Todos os parentes que não haviam telefonado para o Welton no dia anterior o fizeram naquele dia – a audiência da Globo é inacreditável. Meu sogro ficou muito feliz. E eu também.
Algum tempo depois eu e a Isa nos separemos. Ontem, depois de alguns anos sem notícias dela, soube que Welton morreu em 2008. Desde então, tenho pensado muito nele, e em alguns momentos bacanas que vivemos juntos.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Boa Música Brasileira: Chicas
Gonzaguinha viajou antes do combinado, mas seu talento tem se mostrado hereditário. Além do filho Daniel, o cantor ofereceu à MPB duas filhas talentosas: Fernanda Gonzaga e Amora Pêra, que fazem parte do grupo Chicas.
O repertório das Chicas inclui músicas de Gonzaguinha e de outras feras, como Arnaldo Antunes, Lenine e Gil. As moças também interpretam composições próprias.
Aperitivos:
Baião de rua
Geraldinos e Arquibaldos
Me deixa
Espumas ao vento
Namorar
A insustentável leveza do ser - Monteiro Lobato
Monteiro Lobato é conhecido por sua mais genial criação, o Sítio do Picapau Amarelo, que encanta crianças e adultos há várias gerações. Mas além de grande mestre da literatura infantil, Lobato foi um dos maiores "malucos beleza" de Pindorama.
Nasceu José Renato, em 18 de abril de 1882. Porém, por conta das iniciais J.B.M.L. gravada em uma bengala do pai, mudou seu nome para José Bento.
Formou-se em direito e chegou a ser promotor, mas em 1911 herdou a fazenda do avô e tornou-se fazendeiro. As geadas e a falta de mão-de-obra qualificada - escreveu Jeca Tatu neste período - o levaram a vender a propriedade.
Montou uma editora e revolucionou o mercado editorial do país. Escreveu Urupês, O presidente negro e O escândalo do petróleo, entre outras obras voltadas ao público adulto.
Em 1927 foi nomeado adido comercial nos Estados Unidos. Voltou de lá disposto a explorar ferro e petróleo - quase faliu - e montar uma fábrica de chicletes - novidade que o encantou.
Foi preso por criticar o "militarismo federal" do governo Vargas.
Defendeu a reforma agrária.
No dia 21 de abril de 1948 Monteiro Lobato sofreu um espasmo vascular cerebral. Permaneceu em coma durante duas horas e meia, até que recobrou a consciência. De acordo com seu médico, Antônio Branco Lefèvre, do episódio "não resultou qualquer paralisia ou distúrbio de consciência, apenas uma agrafia bastante nítida".
As letras se transformaram em traços sem qualquer sentido simbólico. Lobato não conseguia ler ou escrever uma palavra sequer.
Monteiro Lobato faleceu dois meses e meio depois, no dia 4 de julho. De acordo com seu médico,que já o encontrou sem vida, o escritor tinha uma "uma estranha expressão de serenidade na face".
Ótima biografia sobre Lobato: Furacão na Botocúndia
Última entrevista concedida por Lobato
segunda-feira, 14 de junho de 2010
"O Abraço Corporativo" retrata a imprensa na era da ejaculação precoce
Estréia na próxima sexta, 18/06, o documentário “O Abraço Corporativo”, do jornalista Ricardo Kauffman. O filme acompanha a trajetória real de um consultor de RH fictício, chamado Ary Itnem, em busca de divulgação da Teoria do Abraço. Tal Teoria é a solução para uma doença enfrentada pelas empresas chamada inércia do afastamento – um mal causado pelo uso excessivo das novas tecnologias.
O filme mostra o personagem – encarnado pelo ator Leonardo Camillo – e sua teoria também inventada em contato com emissoras de TV, rádio, jornais, revistas e portais da Internet.
Ary virou hit na web quando foi à avenida Paulista pedir abraços grátis. Seu vídeo alcançou a marca de 650 mil views e foi parar na home page de grandes portais.
“O documentário mostra e discute um dilema do jornalismo da era pré-digital em todo o mundo: o que fazer com tanto espaço para informação e capacidade técnica para publicar notícias assim que acontecem ou se anunciam”, diz Kauffman.
“O Abraço Corporativo” mistura a trajetória de Ary com depoimentos diversos sobre como se faz notícia hoje. Juca Kfouri, Eugênio Bucci, Contardo Calligaris, Bob Fernandes e o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo são alguns dos entrevistados.
Veja o trailer
Aliança Lula-Sarney é abominável
O feitiço de Sarney
Por leandro Fortes
O Maranhão é o quarto secreto onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esconde, como Dorian Gray, uma resistente decrepitude moral de seu governo. Assim como o personagem da obra de Oscar Wilde, Lula se mantém jovial e brilhante para o Brasil e o mundo, cheio de uma alegria matinal tão típica dos vencedores, enquanto se degenera e se desmoraliza no retrato escondido do Maranhão, o mais pobre, miserável e desafortunado estado brasileiro. Na terra dominada por José Sarney, Lula, o anunciado líder mundial dos novos tempos, parece ser vítima do feitiço do atraso.
Dessa forma, em nome de uma aliança política seminal com o PMDB, muito anterior a esta que levou Michel Temer a ser candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, Lula entregou seis milhões de almas maranhenses a Sarney e sua abominável oligarquia, ali instalada há 45 anos. Uma história cujo resultado funesto é esta sublime humilhação pública do PT local, colocado de joelhos, por ordem da direção nacional do partido, ante a candidatura de Roseana Sarney ao governo do estado, depois ter decidido apoiar o deputado Flávio Dino, do PCdoB, durante uma convenção estadual partidária legal e legítima, por meio de votação aberta e democrática.
Esse Lula genial, astuto e generoso, capaz de, ao mesmo tempo, comandar a travessia nacional para o desenvolvimento e atravessar o mundo para evitar uma guerra nuclear no Irã, não existe no Maranhão. Lá, Lula é uma sombra dos Sarney, mais um de seus empregados mantidos pelo erário, cuja permissão para entrar ou sair se dá nos mesmos termos aplicados à criadagem das mansões do clã em São Luís e na ilha de Curupu – isso mesmo, uma ilha inteira que pertence a eles, como de resto, tudo o mais no Maranhão.
Lula, o mais poderoso presidente da República desde Getúlio Vargas, foi impedido sistematicamente de ir ao estado no curto período em que a família Sarney esteve fora do poder, no final do mandato de Reinaldo Tavares (quando este se tornou adversário de José Sarney) e nos primeiros anos de mandato de Jackson Lago, providencialmente cassado pelo TSE, em 2009, para que Roseana Sarney reocupasse o trono no Palácio dos Leões. Só então, coberto de vergonha, Lula pôde aterrissar no estado e se deixar ver pelo povo, ainda escravizado, do Maranhão. Uma visita rápida e desconfortável ao retrato onde, ao contrário de seu reflexo mundo afora, ele se vê um homem grotesco, coberto de pústulas morais – amigo dos Sarney, enfim. Logo ele, Lula, cujo governo, a história e as intenções são a antítese das corruptas oligarquias políticas nacionais.
Lula, apesar de tudo, caminha para o fim de seus mandatos sem ter percebido a dimensão da imensa nódoa que será José Sarney, essa figura sinistramente malévola, no seu currículo, na sua vida. Toda vez que se voltar para o mapa do país que tanto vai lhe dever, haverá de sentir um desgosto profundo ao vislumbrar a mancha difusa do Maranhão, um naco de terra esquecido de onde, nos últimos 20 anos, milhares de cidadãos migraram para outros estados, fugitivos da fome, do desemprego, da escravidão, da falta de terra, de dignidade e de esperança. Fugitivos dos Sarney, de suas perseguições mesquinhas, de sua megalomania financiada pelos cofres públicos e de seu cruel aparelhamento policial e judiciário, fonte inesgotável de repressão e arbitrariedades.
Contra tudo isso, o deputado Domingos Dutra, um dos fundadores do PT maranhense, entrou em greve de fome no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília. Seria só mais um maranhense a ser jogado na fome por culpa da família Sarney, não fosse a grandeza que está por trás do gesto. Dutra, filho de lavradores pobres do Maranhão, criou-se politicamente na luta permanente contra José Sarney e seus apaniguados. Em três décadas de pau puro, enfrentou a fúria do clã e por ele foi perseguido implacavelmente, como todos da oposição maranhense, sem entregar os pontos nem fazer concessões ao grupo político diretamente responsável pela miséria de um povo inteiro. Dutra só não esperava, nessa quadra da vida, aos 54 anos de idade, ter que lutar contra o PT.
Assim, Lula pode até se esquivar de olhar para o retrato decrépito escondido no quarto secreto do Maranhão, mas em algum momento terá que enfrentar o desmazelo da figura serena e esquálida do deputado Domingos Dutra a lembrá-lo, bem ali, no Congresso Nacional, que a glória de um homem público depende, basicamente, de seus pequenos atos de coragem.
Comentário: o texto é um alento.
Desde que Lula se tornou presidente, boa parte daqueles que, como eu, militou durante anos na esperança de que o PT pudesse oferecer uma alternativa à política indecente que imperava no país passou a reagir agressivamente a qualquer tipo de crítica dirigida ao sacrossanto Lula.
Os avanços obtidos nos últimos anos são inegáveis. Mas tais avanços não podem ser justificados por meio de aberrações como o toma-lá-dá-cá com Sarneys, Renans, Jucás e outros tantos.
O "jeito de fazer política" do PT tornou-se insalubre como o dos demais. Os pragmáticos insistem que não há outro jeito. Se não houver, que não se faça. Pragmatismo demais é sinônimo de canalhice.
Criadora e criatura: "bispa" Sonia e "bispa" Kaká
A ignorância e a desesperança são um campo fértil para embusteiros de todas as espécies. Representantes do Todo Poderoso e gurus da autoajuda nadam de braçada, e constroem impérios com uma velocidade espantosa.
Considerando as, digamos, necessidades espirituais do homem contemporâneo, um jovem casal promete monopolizar as atenções dos fiéis nos próximos anos: o jogador Kaká e sua esposa, a "bispa" Caroline Celico.
O casal tem como madrinha espiritual da exótica "bispa" Sonia Hernandez, que juntamente com seu marido, também "bispo", passou uma temporada em cana nos Estados Unidos após ser flagrada com uma dinheirama dentro da bíblia - em nome de Jesus, aleluia.
Kaká já declarou que se tornará "pastor" assim que deixar os gramados. Caroline - na foto acima em companhia da madrinha - demonstra, no olhar, ter a obstinação necessária para mover montanhas e andar sobre as águas.
Kaká é um dos jogadores mais bem pagos do mundo. Caroline nasceu em berço explêndido. Nenhum dos dois precisaria da grana das sacolinhas para viver.
Como cético, tenho que admitir que há mais mistérios do que pode supor a nossa vã filosofia.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
A insustentável leveza do ser - Castro Alves
Autor de "Espumas Flutuantes" e "O Navio Negreiro", entre outros, escritor Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 1847 na cidade de Curralinho, Bahia.
Dedicou sua obra ao combate à escravidão.
Aos 16 anos, ingressou na faculdade de direito em Recife.
Ainda com 16 anos, contraiu tuberculose.
Aos 20 anos apaixonou-se pela atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha, de quem tornou-se amante.
De passagem pelo Rio de Janeiro com Eugênia, conheceu Machado de Assis e José de Alencar, que o introduziram nos meios literários.
Em 1868, durante uma caçada, dispara contra o próprio pé, que precisa ser amputado.
Mutilado e abandonado por Eugênia, morreu aos 24 anos devido ao agravamento da tuberculose.
As prioridades do prefeito do Demo
Gilberto do Demo gosta de pesquisas. Quando herdou a cadeira de Serra - que jurou que não renunciaria ao mandato para concorrer ao governo, mas mijou para trás -, Gilberto do Demo foi informado sobre o número de paulistanos vivendo em favelas: na época, quase 2 milhões. O prefeito da maior cidade do país descobriu que, no seu reino, 1 em cada 6 súditos vivia em barracos.
Que medidas Gilberto do Demo tomou? Criou o programa Cidade Limpa, promovendo a retirada das placas que enfeiavam a Desvairada.
Há alguns dias o prefeito do Demo divulgou novos números. Mais de 13 mil paulistanos têm as ruas como lar. Associações juram que são mais de 18 mil.
Além de viverem na total indigência, muitas dessas pessoas são reféns do crack. Tornaram-se verdadeiros zumbis, sobretudo na região central da capital.
Certamente comovido com a degradação do centro do seu reino, Gilberto do Demo acaba de anunciar novas medidas: investirá R$ 1,32 mi na limpeza e pintura dos 92 pilares que sustentam o minhocão - que ele já disse querer derrubar. Os pilares receberão tinta antipichação.
Talvez o prefeito do Demo queira oferecer um ambiente melhor para os moradores de rua. Ou será que Gilberto do Demo imagina que, com o minhocão arrumadinho, os desabrigados se sentirão deslocados e partirão em busca de outros refúgios menos visíveis?
Aldo, um canalha a serviço do agronegócio
O deputado federal Aldo Rebelo (PC do B) apresentou proposta de alterações no Código Florestal Brasileiro. De acordo com ONGs ambientalistas e organizações sociais camponesas, com a aprovação do novo código o agronegócio consolidará áreas já desmatadas em reservas legais e áreas de proteção permanente (APPs). Assim, ficarão perdoados grandes produtores rurais que cometeram infrações ambientais.
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quarta-feira, 9 de junho de 2010
Empresas investem nos patos do futuro
Como pai separado, por mais que procure me fazer presente, fico meio vendido em relação a algumas questões relacionadas ao dia a dia de minha filha.
Dia desses soube de um "passeio" que a Camila fez com seus colegas - alunos da segunda série do ensino fundamental. Em uma linda tarde de sol, visitaram a indústria de papel Melhoramentos.
De modo geral, os "passeios" são "oferecidos" pela escola meio na base da chantagem: os alunos que não participam devem ficar em casa, pois no dia dos "passeios" não há aulas - e ninguém para cuidar dos dissidentes. Ou seja: os pais que se virem, ou banquem o tal "passeio".
O "passeio" à Melhoramentos foi vendido, descobri depois, como uma oportunidade das crianças conhecerem o processo de produção do papel. A atividade foi oferecida à escola pela própria empresa.
De cara achei a coisa esquisita e não demorou muito para que eu pudesse confirmar minhas suspeitas.
- Camila, como foi a visita à Melhoramentos?
Monossilábica como o pai, ela costuma responder perguntas do gênero apenas com um "legal". Não foi o caso.
- Legal papai. A gente só deve comprar papel da Melhoramentos. Eles cortam árvores mas plantam muito mais.
Não posso alegar ignorância. Sei que há uns bons anos o MKT das empresas investe fortemente no público definido como "pequeno consumidor". Mas a coisa se torna muito mais bizarra quando o seu filho se torna o pato da vez - ou o pato do futuro, como preferirem.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Terroristas israelenses planejam novo ataque contra Rachel Corrie
Rachel Corrie foi uma ativista do Movimento de Solidariedade Internacional. Morreu aos 23 anos, em 2003, esmagada por uma retroescavadeira comandada por soldados do exército israelense.
Rachel Corrie foi morta quando tentava impedir que casas palestinas fossem demolidas em Rafah, na Faixa de Gaza.
Hoje, um barco irlandês que leva o seu nome segue para Gaza, numa tentativa de furar o hediondo bloqueio imposto pelo estado terrorista de israel. O Rachel Corrie leva medicamentos, cimento e material escolar.
Os assassinos israelenses, que no último dia 31 mataram covardemente nove ativistas que tentavam chegar a Gaza, já anunciaram que interceptarão o barco.
O mundo assistirá, impassível, o novo massacre de Rachel Corrie?
Memorial Rachel Corrie
500 famílias perdem suas casas todos os dias
Desde 2008, 350 mil famílias perderam suas casas por não conseguir pagar a hipoteca. Todos os dias, 500 famílias são despejadas.
Tudo isso ocorre na Espanha, e é fruto da bolha imobiliária criada pelos bancos.
Leia a íntegra: El País
terça-feira, 1 de junho de 2010
Mais um "ataque preventivo" do Estado Terrorista de Israel
O que vai acontecer? O mesmo que acontece desde 1948. Absolutamente nada. Afinal, ao povo escolhido por deus, tudo. Aos demais, a ONU e os mísseis.
Texto de Robert Fisk sobre o novo atentado cometido por Israel:
"Alguma coisa mudou no Oriente Médio, nas últimas 24 horas – e os israelenses, se se considera a resposta política extraordinariamente estúpida, pós-matança, não dão qualquer sinal de ter percebido a mudança. O que mudou é que o mundo, afinal, cansou-se das matanças israelenses. Só os políticos não têm o que dizer, hoje. Só os políticos estão calados."
Perfídia na Fiesp: Presidente socialista é chamuscado por fogo amigo
Há algumas semanas o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro. Será candidato ao governo de São Paulo.
A aberração não causou estranheza e foi divulgada com naturalidade pela mídia.
A primeira manifestação de indignação contra a burlesca candidatura surgiu ontem e pode ser classificada como fogo amigo. Em artigo intitulado "Perfídia na Fiesp", publicado ontem no jornal da família Frias, José Henrique Nunes Barreto, diretor da Fiesp e presidente do Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de São Paulo)foi direto ao ponto:
"trata-se de um contrassenso: o comandante de uma agremiação que prega a livre iniciativa se coloca como candidato do Partido Socialista Brasileiro".
Particularmente, acho que o homem do fumo jogou suas palavras ao vento. A essa altura, os leitores devem estar apenas se perguntando: mas perfídia é crime eleitoral?
Íntegra do artigo
A aberração não causou estranheza e foi divulgada com naturalidade pela mídia.
A primeira manifestação de indignação contra a burlesca candidatura surgiu ontem e pode ser classificada como fogo amigo. Em artigo intitulado "Perfídia na Fiesp", publicado ontem no jornal da família Frias, José Henrique Nunes Barreto, diretor da Fiesp e presidente do Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de São Paulo)foi direto ao ponto:
"trata-se de um contrassenso: o comandante de uma agremiação que prega a livre iniciativa se coloca como candidato do Partido Socialista Brasileiro".
Particularmente, acho que o homem do fumo jogou suas palavras ao vento. A essa altura, os leitores devem estar apenas se perguntando: mas perfídia é crime eleitoral?
Íntegra do artigo
Tanga: deu no New York Times
Há mais de uma década especialistas têm alertado sobre os riscos (ambientais e à saúde) e desvantagens comerciais dos transgênicos.
A mídia os classificava como ecochatos e inimigos do progresso. O governo Lula tratorou decisões judiciais e liberou lavouras transgênicas no Brasil.
Agora que até New York Times escancara os efeitos nocivos dos transgênicos, será que os "ecochatos e inimigos do progresso" começarão a ser levados a sério?
Amplo uso de pesticidas leva ao surgimento de "superervas" resistentes
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Pragas tenazes obrigam agricultores a retomar o arado--------------------------------------------------------------------------------
Por WILLIAM NEUMAN
e ANDREW POLLACK
DYERSBURG, Tennessee - Assim como o uso intensivo de antibióticos contribuiu para a ascensão de supergermes resistentes a medicamentos, o uso quase generalizado pelos agricultores americanos do herbicida Roundup levou ao rápido crescimento de novas e tenazes superervas.
O mato resistente ao Roundup também é encontrado em outros países, como Brasil, Austrália e China, segundo pesquisas.
Para combatê-lo, os agricultores são obrigados a borrifar os campos com herbicidas mais tóxicos, arrancar o mato manualmente e voltar a métodos mais trabalhosos, como a aração comum.
"Voltamos ao ponto em que estávamos 20 anos atrás", disse Eddie Anderson, agricultor que vai arar cerca de um terço de seus 1.200 hectares de soja nesta estação, mais do que arou em muitos anos. "Estamos tentando descobrir o que funciona."
Especialistas dizem que esses esforços poderão causar um aumento do preço dos alimentos, menor produtividade das colheitas, crescentes custos agrícolas e mais poluição da terra e da água. "É a maior ameaça isolada à produção agrícola que já vimos", disse Andrew Wargo 3?, presidente da Associação de Distritos de Conservação do Arkansas.
A primeira espécie resistente que representou ameaça séria à agricultura foi localizada em um campo de soja no Estado de Delaware em 2000. Desde então, o problema se disseminou, com dez espécies resistentes em pelo menos 22 Estados infestando principalmente campos de soja, algodão e milho.
As superervas podem diminuir o entusiasmo da agricultura americana por algumas colheitas geneticamente modificadas. A soja, o milho e o algodão que são manipulados para sobreviver ao borrifamento com Roundup tornaram-se padrão nos campos dos EUA. No entanto, se o Roundup não matar as ervas daninhas, os agricultores terão pouco incentivo para investir em sementes especiais.
O Roundup -fabricado pela Monsanto mas hoje também vendido por outras empresas sob o nome genérico de glifosato- elimina um amplo espectro de ervas daninhas, é fácil e seguro de trabalhar e se decompõe rapidamente.
Hoje as plantações com sementes Roundup Ready representam cerca de 90% da soja e 70% do milho e do algodão plantados nos EUA. Mas os agricultores já borrifaram tanto Roundup que o mato evoluiu rapidamente para sobreviver a ele.
Anderson está lutando com uma espécie de erva particularmente resistente ao glifosato, chamada Palmer amaranth, ou "erva-porco" na denominação local. Na tentativa de matar a praga, Anderson e seus vizinhos estão arando seus campos e misturando herbicidas ao solo.
Isso ameaça reverter um dos avanços agrícolas promovidos pela revolução do Roundup: a agricultura com aração mínima. Ao combinar Roundup com colheitas Roundup Ready, os fazendeiros não precisavam arar abaixo das ervas para controlá-las. Isso reduzia erosão, vazamento de produtos químicos para cursos de água e gasto excessivo de combustível nos tratores.
Se a aração frequente se tornar novamente necessária, será "uma grande preocupação para nosso meio ambiente", disse Ken Smith, cientista de ervas daninhas da Universidade do Arkansas.
Além disso, críticos de colheitas geneticamente modificadas dizem que o uso de mais herbicidas contesta as alegações da indústria de biotecnologia, de que suas colheitas seriam melhores ao meio ambiente. "A indústria está nos levando a uma agricultura mais dependente de pesticidas, e precisamos ir na direção oposta", disse Bill Freese, analista do Centro para Segurança Alimentar, em Washington.
A Monsanto, que antes afirmava que a resistência não seria um problema maior, hoje adverte contra se exagerar em seu impacto. Rick Cole, que administra o tema nos EUA para a empresa, disse: "É uma questão séria, mas administrável".
Fonte
A mídia os classificava como ecochatos e inimigos do progresso. O governo Lula tratorou decisões judiciais e liberou lavouras transgênicas no Brasil.
Agora que até New York Times escancara os efeitos nocivos dos transgênicos, será que os "ecochatos e inimigos do progresso" começarão a ser levados a sério?
Amplo uso de pesticidas leva ao surgimento de "superervas" resistentes
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Pragas tenazes obrigam agricultores a retomar o arado--------------------------------------------------------------------------------
Por WILLIAM NEUMAN
e ANDREW POLLACK
DYERSBURG, Tennessee - Assim como o uso intensivo de antibióticos contribuiu para a ascensão de supergermes resistentes a medicamentos, o uso quase generalizado pelos agricultores americanos do herbicida Roundup levou ao rápido crescimento de novas e tenazes superervas.
O mato resistente ao Roundup também é encontrado em outros países, como Brasil, Austrália e China, segundo pesquisas.
Para combatê-lo, os agricultores são obrigados a borrifar os campos com herbicidas mais tóxicos, arrancar o mato manualmente e voltar a métodos mais trabalhosos, como a aração comum.
"Voltamos ao ponto em que estávamos 20 anos atrás", disse Eddie Anderson, agricultor que vai arar cerca de um terço de seus 1.200 hectares de soja nesta estação, mais do que arou em muitos anos. "Estamos tentando descobrir o que funciona."
Especialistas dizem que esses esforços poderão causar um aumento do preço dos alimentos, menor produtividade das colheitas, crescentes custos agrícolas e mais poluição da terra e da água. "É a maior ameaça isolada à produção agrícola que já vimos", disse Andrew Wargo 3?, presidente da Associação de Distritos de Conservação do Arkansas.
A primeira espécie resistente que representou ameaça séria à agricultura foi localizada em um campo de soja no Estado de Delaware em 2000. Desde então, o problema se disseminou, com dez espécies resistentes em pelo menos 22 Estados infestando principalmente campos de soja, algodão e milho.
As superervas podem diminuir o entusiasmo da agricultura americana por algumas colheitas geneticamente modificadas. A soja, o milho e o algodão que são manipulados para sobreviver ao borrifamento com Roundup tornaram-se padrão nos campos dos EUA. No entanto, se o Roundup não matar as ervas daninhas, os agricultores terão pouco incentivo para investir em sementes especiais.
O Roundup -fabricado pela Monsanto mas hoje também vendido por outras empresas sob o nome genérico de glifosato- elimina um amplo espectro de ervas daninhas, é fácil e seguro de trabalhar e se decompõe rapidamente.
Hoje as plantações com sementes Roundup Ready representam cerca de 90% da soja e 70% do milho e do algodão plantados nos EUA. Mas os agricultores já borrifaram tanto Roundup que o mato evoluiu rapidamente para sobreviver a ele.
Anderson está lutando com uma espécie de erva particularmente resistente ao glifosato, chamada Palmer amaranth, ou "erva-porco" na denominação local. Na tentativa de matar a praga, Anderson e seus vizinhos estão arando seus campos e misturando herbicidas ao solo.
Isso ameaça reverter um dos avanços agrícolas promovidos pela revolução do Roundup: a agricultura com aração mínima. Ao combinar Roundup com colheitas Roundup Ready, os fazendeiros não precisavam arar abaixo das ervas para controlá-las. Isso reduzia erosão, vazamento de produtos químicos para cursos de água e gasto excessivo de combustível nos tratores.
Se a aração frequente se tornar novamente necessária, será "uma grande preocupação para nosso meio ambiente", disse Ken Smith, cientista de ervas daninhas da Universidade do Arkansas.
Além disso, críticos de colheitas geneticamente modificadas dizem que o uso de mais herbicidas contesta as alegações da indústria de biotecnologia, de que suas colheitas seriam melhores ao meio ambiente. "A indústria está nos levando a uma agricultura mais dependente de pesticidas, e precisamos ir na direção oposta", disse Bill Freese, analista do Centro para Segurança Alimentar, em Washington.
A Monsanto, que antes afirmava que a resistência não seria um problema maior, hoje adverte contra se exagerar em seu impacto. Rick Cole, que administra o tema nos EUA para a empresa, disse: "É uma questão séria, mas administrável".
Fonte
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Racismo só existe no atacado?
Frequentemente ouço notícias sobre alguém que teve uma atitude racista e foi indiciado por injúria racial. Ontem mesmo, ao abordar um vereador que conduzia seu carro em alta velocidade e de forma perigosa, um policial negro foi chamado de macaco pelo político. Segundo o delegado, o vereador será indiciado por injúria racial.
Tucanaram o racismo para livrar a cara dos canalhas, costumava pensar com os meus botões. Racismo não é um crime inafiançável, grave?
Resolvi pesquisar e descobri que existe uma diferenciação muito clara entre os crimes de racismo e de injúria racial:
"Há a Injúria Racial quando as ofensas de conteúdo discriminatório são empregadas a pessoa ou pessoas determinadas. Ex.: negro fedorento, judeu safado, baiano vagabundo, alemão azedo, etc.
O crime de Racismo constante do artigo 20 da Lei nº 7.716/89 somente será aplicado quando as ofensas não tenham uma pessoa ou pessoas determinadas, e sim venham a menosprezar determinada raça, cor, etnia, religião ou origem, agredindo um número indeterminado de pessoas. Ex.: negar emprego a judeus numa determinada empresa, impedir acesso de índios a determinado estabelecimento, impedir entrada de negros em um shopping, etc."
Será que eu entendi direito? Chamar um negro de macaco é injúria racial, crime que prevê pena máxima de três anos e que raramente leva à privação da liberdade. Para que o criminoso seja indiciado por racismo, terá de dizer: você e todos os seus irmãos africanos são um bando de macacos! Aí estará sujeito a uma pena de até cinco anos, sem a possibilidade de libertação mediante o pagamento de fiança.
Quer dizer: racismo no varejo é injúria racial, pois só um indivíduo é prejudicado. Para ser considerado delito grave, só se for no atacado.
Grotesco. Felizmente a mesma lógica não se aplica aos homicídios.Já pensou? Matou um só? Entregue 20 cestas básicas. Matou cinco? 30 anos para o psicopata.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Allen
"Minha relação com a morte continua a mesma: sou radicalmente contra".
“Envelhecer é um péssimo negócio. Você não fica mais sábio, nem mais amável, nada. Aconselho vocês a não fazerem isso. É muito melhor ser jovem e conquistar a garota. Vocês não sabem como é frustrante fazer todos esses filmes com Scarlet Johansson e Naomi Watts e não poder beijá-las. Os atores olham pra trás das câmeras e comentam: tá vendo aquele velhinho ali? É o diretor.”
Woody Allen, que está lançando seu novo filme, "You will meet a tall dark stranger", que deve demorar um bocado para chegar a Pindorama - o anterior, o ótimo "Tudo pode dar certo", entrou há pouco tempo em cartaz.
“Envelhecer é um péssimo negócio. Você não fica mais sábio, nem mais amável, nada. Aconselho vocês a não fazerem isso. É muito melhor ser jovem e conquistar a garota. Vocês não sabem como é frustrante fazer todos esses filmes com Scarlet Johansson e Naomi Watts e não poder beijá-las. Os atores olham pra trás das câmeras e comentam: tá vendo aquele velhinho ali? É o diretor.”
Woody Allen, que está lançando seu novo filme, "You will meet a tall dark stranger", que deve demorar um bocado para chegar a Pindorama - o anterior, o ótimo "Tudo pode dar certo", entrou há pouco tempo em cartaz.
Solo
segunda-feira, 24 de maio de 2010
TABACARIA
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)(15-1-1928 )
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Procura-se um Günter Wallraff
Günter Wallraff, 67, é um jornalista alemão. Sua especialidade é o jornalismo investigativo e sua estratégia é sensacional. Wallraff se disfarça e mergulha de cabeça nas realidades sombrias que pretende retratar.
Loiro de olhos azuis, já se disfarçou de turco para mostrar as condições aviltantes a que são submetidos os imigrantes turcos na Alemanha. Para isso, trabalhou na construção civil, em minas de carvão, e foi cobaia da indústria farmacêutica. A reportagem lhe rendeu uma infinidade de processos, ameaças de morte, e um livro maravilhoso: "Cabeça de Turco", traduzido em mais de 30 idiomas.
Wallraff também se fez passar por um “yuppie” ambicioso e descolou um emprego no Bild, o jornal mais vendido da Alemanha. Após quatro meses nos bastidores do tablóide, reuniu informações para “Fábrica de Mentiras”, que mostra como o Bild distorce notícias e expõe os menos favorecidos.
Em sua mais recente empreitada, Wallraff se fez passar por funcionário de uma empresa de call center. Estou curiosíssimo para conhecer detalhes da experiência.
E fico pensando: será que não há um Günter Wallraff em Pindorama? Ano após ano as mesmas empresas lideram o ranking de reclamações do Procon - apesar obterem consecutivamente lucros recordes. Já pensaram em um Günter Wallraff no call center de uma empresa de telefonia ou de um banco? Meu deus...
Folha reinventará a imprensa
O Folha alardeia que reinventará a imprensa.
Seu novo projeto gráfico será o feito mais importante desde Gutenberg.
Mas os fiéis leitores do jornal não têm motivos para preocupação. Os princípios éticos da Folha permanecerão intocados, como demonstra o derradeiro artigo publicado ontem pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo no FMI.
No trecho abaixo, Nogueira explica como foi informado de seu desligamento da equipe de colunistas:
"Telefona-me Raul Juste Lores, que não tive o prazer de conhecer, mas que vem a ser o novo editor do caderno Dinheiro, para informar, de chofre, que a minha coluna deixará de ser publicada pela Folha. Nada de "o gato subiu no telhado" etc. Foi uma execução sumária. Parece que vem aí uma nova turma de colunistas, feroz, antenadíssima com as novas tendências, pronta para escrever sobre temas de vanguarda como tecnologia, linguagem digital, entre outros.
Este é o meu último artigo na coluna. Ora, na minha coluna, os personagens não têm os nomes que têm por mera coincidência ou acaso. Se o novo editor do Dinheiro se chama Juste, isso indica certamente uma inapelável tendência ao equilíbrio e à justiça. Ele me disse com todas as letras (sem intenção de ferir): "A sua coluna é das mais longevas".
Longeva! Senti-me imediatamente como uma múmia, pronta a ser encaminhada para o sarcófago mais próximo."
Os Frias podem deixar o layout das páginas mais bonitinho, mas uma vez Folha, sempre Folha.
Paulo Nogueira e o macartismo da Folha
Seu novo projeto gráfico será o feito mais importante desde Gutenberg.
Mas os fiéis leitores do jornal não têm motivos para preocupação. Os princípios éticos da Folha permanecerão intocados, como demonstra o derradeiro artigo publicado ontem pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo no FMI.
No trecho abaixo, Nogueira explica como foi informado de seu desligamento da equipe de colunistas:
"Telefona-me Raul Juste Lores, que não tive o prazer de conhecer, mas que vem a ser o novo editor do caderno Dinheiro, para informar, de chofre, que a minha coluna deixará de ser publicada pela Folha. Nada de "o gato subiu no telhado" etc. Foi uma execução sumária. Parece que vem aí uma nova turma de colunistas, feroz, antenadíssima com as novas tendências, pronta para escrever sobre temas de vanguarda como tecnologia, linguagem digital, entre outros.
Este é o meu último artigo na coluna. Ora, na minha coluna, os personagens não têm os nomes que têm por mera coincidência ou acaso. Se o novo editor do Dinheiro se chama Juste, isso indica certamente uma inapelável tendência ao equilíbrio e à justiça. Ele me disse com todas as letras (sem intenção de ferir): "A sua coluna é das mais longevas".
Longeva! Senti-me imediatamente como uma múmia, pronta a ser encaminhada para o sarcófago mais próximo."
Os Frias podem deixar o layout das páginas mais bonitinho, mas uma vez Folha, sempre Folha.
Paulo Nogueira e o macartismo da Folha
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Ugo Giorgetti lança "Solo"
Estréia amanhã (21), no Espaço Unibanco Augusta, o longa "Solo", de Ugo Giorgetti (diretor de A Festa, Sábado, Boleiros e O Príncipe, entre outros).
Ao longo de 72 minutos, Abujamra recita um monólogo sobre a solidão e as lembranças dos tempos em que São Paulo era uma cidade agradável de viver. “Tudo está ficando incompreensível”, diz o velho. “A minha é uma solidão como todas as outras.”
"Solo" terá apenas uma sessão por dia, às 18h. Giorgetti acha que assim conseguirá manter o filme em cartaz por mais tempo. O Príncipe, um de seus melhores filmes, ficou poucos dias nos cinemas paulistanos.
Veja trechos do filme 1, 2, 3.
Leia entrevista com Giorgetti
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Pausa para o café
O brasileiro já foi o melhor do mundo.
Há alguns anos, o colombiano conquistou a preferência dos americanos.
Mas no mundo dos "chiques", como os classifica a antropóloga Glorinha Kalil, só há lugar para o Kopi Luwak.
Originário da Indonésia, o café mais caro do mundo é produzido artesanalmente. São apenas 230 quilos por ano e o preço para o Sua Majestade o Consumidor é de cerca de mil dólares por quilo.
O processo de produção da iguaria é, digamos, exótico. Os frutos mais doces, maduros e avermelhados do café são ingeridos por civetas, mamíferos semelhantes aos gatos.
Ao passar pelo sistema digestório do animal, o grão sofre um processo de modificação parecido com o utilizado pela indústria cafeeira para remover a polpa do grão de café, mas que envolve bactérias diferentes das usadas pela indústria, além das enzimas digestivas.
De acordo com especialistas, isso faz com que o Kopi Luwak tenha um sabor inigualável.
Isso mesmo. O café mais caro do mundo é produzido a partir das fezes de primos indonésios dos gatos.
Tenho dois gatos e, ao menos duas vezes ao dia, me ocupo da eliminação de seus excrementos - uma tarefa pouco aprazível.
Ao tomar meu próximo cafezinho não deixarei de fazer dois brindes: o primeiro, por não ser rico. O segundo, por não ser tão excêntrico.
Estar na merda não é nada fácil. Agora, pagar caro por ela? Sei não.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Ouro em pó: acervo do jornalista Aloysio Biondi
Após grande empenho da família Biondi, o acervo do grande jornalista Aloysio Biondi pode ser consultado no site http://www.aloysiobiondi.com.br.
Abaixo, trecho de artigo publicado por Biondi na saudosa revista Bundas, no dia 21/12/99. Mais de 10 anos depois, vemos que estamos cada vez mais reféns dos espertalhões.
"O País está sendo literalmente escravizado pelas Cortes. O povo brasileiro está sendo literalmente escravizado para produzir lucros para os povos dos países ricos. Para não ficar nenhuma dúvida sobre esse relacionamento Corte-Colônia: há três semanas, foi instalada na Espanha uma Bolsa de Valores “especial”, anexa à Bolsa de Valores tradicional. Seu objetivo? Ela vai negociar somente ações de empresas energéticas e telefônicas cujo controle foi “comprado” principalmente por espanhóis e portugueses dentro da “privatização”. É um domínio ostensivo, um escarro em nossas caras: nem as ações das empresas “brasileiras” serão mais negociadas nas Bolsas do Brasil. Também, pra que? Escravo não tem dinheiro para comprar ações, mesmo. Pedido ao Congresso Nacional, ou melhor, a Papai Noel: “Queremos nosso Brasil de volta”."
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Folha, sempre se superando
O jornal dos Frias tem um caderno chamado "Equilíbrio", cuja linha editorial é o que os descolados gostam de chamar de "viver bem".
No dia 29 de maio de 2008, a reportagem de capa do caderno era sobre odores corporais. Na capa, a ilustração de um negro transpirando, acompanhada do título: chulé, cê-cê, bafo. Saiba a explicação para esses e outros cheiros corporais. No miolo, em página dupla, a ilustração de uma loira envolta em uma nuvem de perfume.
A abordagem era nitidamente racista e os leitores, evidentemente, caíram de pau. O ombudsman da época, o Lins da Silva, chegou a recomendar um pedido de desculpas público, o que não aconteceu.
Quase dois anos depois, nova capa canalha:
" O preço de ser verde - Até que ponto vale a pena investir em um estilo de vida sustentável? Veja, na ponta do lápis, o que é viável para o bolso e o que não passa de ecoviagem.
Saravá! Socorro! Quer dizer que cidadania deve ser avaliada na ponta do lápis? Se for mais baratinho, dane-se o clima, danem-se as florestas, dane-se a água?
Nelson Rodrigues poderia até classificar a equipe do caderno como "idiotas da objetividade". Mas não sejamos tão românticos. É apenas má fé.
Segundo os "especialistas", na ponta do lápis, os jornais impressos não serão mais viáveis. Ah é? Então dane-se a Folha!
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Vale viola direitos em 30 países
Fundada em 1942 e privatizada em maio de 1997, a mineradora Vale transformou-se em símbolo da política neoliberal implementada pelo governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). A estatal foi adquirida pela iniciativa privada pelo valor de US$ 3,4 bilhões. Atualmente, o valor de mercado passa de US$ 140 bilhões, valor quarenta vezes maior que o preço de sua venda.
Somente no ano de 2009, a Vale teve um lucro líquido de mais de US$ 5 bilhões. Em contrapartida, sua ação exploratória em aproximadamente 30 países em que atua está provocando conflitos sociais e ambientais.
A semelhança das ocorrências nos diversos países onde a Vale atua fez com que 80 organizações, presentes nos cinco continentes, organizassem o Movimento Internacional dos Atingidos pela Vale.
Com a mobilização, foi criado um dossiê, que demonstra a ação devastadora da empresa. O documento foi entregue à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA) no final de março deste ano.
Em entrevista à Radioagência NP, a economista Karina Kato, integrante do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, defende a anulação do leilão da Vale e fala sobre a tensão social nos territórios atingidos pela multinacional brasileira.
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Somente no ano de 2009, a Vale teve um lucro líquido de mais de US$ 5 bilhões. Em contrapartida, sua ação exploratória em aproximadamente 30 países em que atua está provocando conflitos sociais e ambientais.
A semelhança das ocorrências nos diversos países onde a Vale atua fez com que 80 organizações, presentes nos cinco continentes, organizassem o Movimento Internacional dos Atingidos pela Vale.
Com a mobilização, foi criado um dossiê, que demonstra a ação devastadora da empresa. O documento foi entregue à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA) no final de março deste ano.
Em entrevista à Radioagência NP, a economista Karina Kato, integrante do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, defende a anulação do leilão da Vale e fala sobre a tensão social nos territórios atingidos pela multinacional brasileira.
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Sinopse:
O centro da trama é Boris Yellnikoff (Larry David). Separado, suicida frustrado, quase Prêmio Nobel de Física e professor de xadrez para crianças, o homem de meia-idade nutre verdadeiro ódio pela humanidade.
O cético e pessimista divide suas horas entre conversar com amigos pelas ruas de Nova York, sempre disseminando suas teorias sobre o vazio e a ausência de significado da vida, e momentos de completa neurose, como visitas recorrentes a hospitais e os períodos que passa lavando a mão -- que duram o tempo exato de cantar duas vezes "Parabéns a Você".
Sua vida muda, no entanto, quando conhece Melodie (Evan Rachel Wood), uma jovem loira e boba do sul dos Estados Unidos. Em sua inocência, a garota admira a "genialidade" de Boris e logo se apaixona. Não tarda para que os dois se casem, o que gera uma série de encontros e desencontros envolvendo os pais da menina e amigos de Boris.
Sinopse:
O centro da trama é Boris Yellnikoff (Larry David). Separado, suicida frustrado, quase Prêmio Nobel de Física e professor de xadrez para crianças, o homem de meia-idade nutre verdadeiro ódio pela humanidade.
O cético e pessimista divide suas horas entre conversar com amigos pelas ruas de Nova York, sempre disseminando suas teorias sobre o vazio e a ausência de significado da vida, e momentos de completa neurose, como visitas recorrentes a hospitais e os períodos que passa lavando a mão -- que duram o tempo exato de cantar duas vezes "Parabéns a Você".
Sua vida muda, no entanto, quando conhece Melodie (Evan Rachel Wood), uma jovem loira e boba do sul dos Estados Unidos. Em sua inocência, a garota admira a "genialidade" de Boris e logo se apaixona. Não tarda para que os dois se casem, o que gera uma série de encontros e desencontros envolvendo os pais da menina e amigos de Boris.
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