quinta-feira, 17 de junho de 2010

Welton

Em 1998, após uma temporada no Japão, trabalhava em uma assessoria de imprensa e era responsável, entre outros clientes, por uma ong de defesa do consumidor.
Além de oferecer boas pautas aos colegas do outro lado do balcão, o bom assessor deve ter sempre no bolso do colete bons personagens para ter mais chances de emplacar na mídia.

Nem sempre é fácil. E o pior é quando a pauta parte de lá para cá. Já recebi pedidos de personagens tão elaborados que poderiam fazer parte de um romance de Garcia Marquez.

Não foi o que aconteceu naquela tarde de sábado, quando almoçava na casa dos meus sogros. O programa Mais Você, de Ana Maria Braga, havia estreado há poucas semanas e a produtora, que tinha recebido um release meu sobre direitos dos usuários de planos de saúde, resolveu inventar uma pauta mais, digamos, divertida. A moça queria falar sobre cidadãos que sempre reivindicavam seus direitos, independentemente do valor em questão.

Tranquilo, pensei. Na segunda faço um pente fino no meu banco de personagens e encontro alguém. Quando comentei sobre a solicitação com a Isa, minha companheira na época, ela disparou:
- Pô, porque você não coloca o meu pai?!! Ele é exatamente assim.
Welton, meu sogro, era um tremendo boa praça e topou na hora. A entrevista foi gravada na casa dele pelo então repórter Evaristo Costa, hoje apresentador do Jornal Hoje.

Não acompanhei a gravação, mas no final Welton me ligou dizendo que a entrevista havia sido longa, e que tinha ficado ótima.

A matéria foi ao ar alguns dias depois e, em pouco tempo, veio a primeira surpresa. Welton, um mineiro-carioca que vivia em São Paulo há muitos anos, recebeu telefonemas de vários parentes que não via há muito tempo. Os colegas de trabalho comentaram. Meu sogro adorou, mas fez um reparo:
- Eles erraram o meu nome, porra. Colocaram Elton!

Além de ilustrar uma reportagem sobre pessoas que reclamam de tudo, Welton era advogado e não podia deixar de pedir uma retificação. Foi o que fez. Ligou para a produção do programa e comunicou o erro.

No dia seguinte, veio a segunda surpresa. A loira abriu o programa com a imagem do Welton congelada na tela.
- Vocês lembram daquele Sr. da matéria de ontem, que reclama de tudo? Pois é, ele reclamou de novo porque nós erramos o nome dele. Desculpa, seu Welton!
Todos os parentes que não haviam telefonado para o Welton no dia anterior o fizeram naquele dia – a audiência da Globo é inacreditável. Meu sogro ficou muito feliz. E eu também.

Algum tempo depois eu e a Isa nos separemos. Ontem, depois de alguns anos sem notícias dela, soube que Welton morreu em 2008. Desde então, tenho pensado muito nele, e em alguns momentos bacanas que vivemos juntos.

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