terça-feira, 4 de maio de 2010

A ordem dos fatores não altera o resultado



Na China, ainda chamada por muitos de comunista, o acelerado e contínuo crescimento econômico tem gerado uma explosão no mercado imobiliário. Resultado: os preços dispararam. Em apenas um ano, imóveis em Xangai tiveram uma valorização de 52%. Em Pequim, de 42%. Em Hong Kong de 40,5%.

Os brilhantes empreendedores só se esqueceram de um detalhe. A renda do povo chinês não aumentou na mesma proporção. Mas a solução veio rápido. No bairro de Liulangzhuang, norte de Pequim, foi inaugurado um complexo de "apartamentos-formiga", com apenas 2 m2 cada um - como o da foto acima.

Todos os cubículos foram alugados pouco depois de estarem prontos, em meados do mês passado. Um dos inquilinos é o animador gráfico Jia Tan Sheng Jin, 24. Recém-chegado da Província de Jiangsu (leste), ele pagou mil yuans (R$ 252) por três meses, o equivalente a cerca de 10% de sua renda nesse período.

Por outro lado...

O Japão, por outro lado, é um país capitalista. Confesso que fiquei confuso quando morei em Tóquio no século passado, entre 1997 e 1998. Todos pareciam ter uma vida de classe média - ao contrário de Cuba, que como sempre dizem as Hebes e Mainairdis da vida, socializou a pobreza.

Eis que, pouco mais de uma década depois, vê-se que a coisa não é bem assim. Antes dos vizinhos chineses os japoneses já tinham se obrigado a morar em cubículos - meu apartamento em Tóquio tinha 16 m2. Mas agora, segundo revelou o Ministério do Trabalho,1 em cada 6 japoneses (ou 20 milhões de pessoas) vivia na pobreza em 2007. Segundo a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, o índice de pobreza do país, de 15,7%, está próximo aos dos Estados Unidos (17,1%), cujas desigualdades sociais há muito são vistas com desprezo e pena pelos japoneses.

Pesquisadores estimam que o índice de pobreza no Japão tenha duplicado desde o colapso dos mercados imobiliário e financeiro do país no início dos anos 90, que provocou duas décadas de estagnação e declínio da renda.

Tão diferentes, apesar de fisicamente semelhantes, chineses e japoneses trilharam caminhos totalmente diferentes - será mesmo? - e acabaram na mesma encruzilhada.

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