sexta-feira, 16 de abril de 2010

Última entrevista concedida por Monteiro Lobato

Entrevista concedida por Lobato a Murilo Antunes Alves, da Rádio Record, em 1948. Dias depois, o escritor morreria.

Sem familiaridade com o rádio, Lobato começa perguntando: "Agora eu vou falar nesse canudo? Um canudo que ouve?"

Para escapar das perguntas espinhosas sobre política, Lobato se escora na esposa. "Já fui para a cadeia uma vez e depois disso eu fiquei cauteloso. E antes de emitir uma opinião, eu penso nas consequências. Há uma pessoa que já me proibiu de voltar para a cadeia: a minha mulher. E eu respeito muito as ideias dela. Ela acha que uma vez já é o bastante."

Sobre a desesperança em relação ao futuro do Brasil, Lobato disse: "Para não desagradar totalmente aos patriotas, coitados, eu finjo acreditar em alguma coisa. Mas cá entre nós - que ninguém nos ouve -, eu também não acredito em mais nada. E tenho verificado que só os homens que chegaram a essa filosofia é que são felizes. Porque todos que ainda acreditam em alguma coisa acabam levando na cabeça. Só os céticos absolutos é que acertam. A verdadeira filosofia é não acreditar em nada, porque tudo é duvidoso."

Sobre a paz entre as nações, Lobato declarou: "Um acordo entre as nações será uma coisa facílima de ser conseguida no dia em que todas as nações tiverem armas iguais. Quando todas tiverem armas atômicas de igual força, a harmonia entre elas será absoluta.Bomba atômica para todos!- com forças iguais, todos ficarão bonzinhos."

Sobre o mercado literário, disse: "O livro é um artigo como outro qualquer. Se não vende, é porque não presta. Meu desejo é que os bons livros vendam e que não haja compradores para os livros ruins."

De todas as suas obras, qual a que mais lhe agradou, a que fala mais de perto ao seu coração, perguntou Antunes Alves. "De todas as minhas obras, a que mais me agrada é a que me dá mais dinheiro. Revendo lá minhas contas, vejo que é a Narizinho Arrebitado, porque já vendi mais de 100 mil exemplares. Se eu dissesse qualquer coisa diferente seria mentira ou hipocrisia."

Para encerrar, o Antunes Alves pergunta qual seria o maior desejo de Lobato. O escritor responde: "Meu maior desejo neste momento seria ver este locutor pelas costas e eu já lá em cima, na cama, para descansar dessa esfrega que levei hoje."


Parte 1

Parte 2

Parte 3

Um comentário:

Cravo e Canela disse...

Fantástico Alf!
Fiz um control c + control v
Beijocas
Gabi