quarta-feira, 10 de março de 2010

Fiesp é presidida por um socialista



Há muito tempo os partidos políticos deixaram de ter diferenças ideológicas. Apesar da profusão de siglas, a política brasileira resume-se a um grande PMDB. Comunistas, socialistas, verdes, democratas-cristãos, demos do demo, enfim, todos bravateiam diante dos holofotes, mas buscam apenas uma lugar ao sol no nefasto jogo político.

Desde que Sarney, da Arena, tornou-se o primeiro presidente pós-ditadura, pouca coisa me causou estranhamento. Porém, confesso que achei exótica a filiação do presidente da Fiesp ao PSB - Partido Socialista Brasileiro. Seria o presidente da Fiesp um socialista?

Parece que sim. Ao se filiar ao PSB, Paulo Skaf declarou que "escolheu o partido com quem se identifica. Gosta muito da [Luiza] Erundina, é amigo do Eduardo [Campos] e do Ciro [Gomes]..."(a boa e velha Erunda declarou que não se sente à vontade para dividir o palanque com o presidente da Fiesp).

Ao longo da vida, alguns amigos socialistas viraram liberais. Um deles, inclusive, declarou-se recentemente simpatico à monarquia. Tudo bem, Lula já disse que só os idiotas - como eu - continuam "de esquerda" depois de velhos. Mas um presidente da Fiesp viraria socialista? Intrigado, resolvi recorrer ao Aurélio:

Socialista: referente ao ou que é partidário do socialismo.

Socialismo: conjunto de doutrinas que se propõem promover o bem comum pela transformação da sociedade e das relações entre as classes sociais, mediante a alteração do regime de propriedade.


Fiquei mais confuso. Mortificado pela culpa, teria Paulo Skaf resolvido ajustar as contas com sua consciência? Levantaria da sua cadeira na avenida Paulista para conclamar as massas a invadir as fábricas e acabar com a exploração do homem pelo homem?

Não me parecia o caso. Porém, ainda intrigado, resolvi dar uma olhada no site do PSB. O que teria causado a "identificação" de Skaf com o partido? No tópico "quem somos", encontrei as seguintes informações:

Princípios:

IV – O Partido tem como patrimônio inalienável da humanidade as conquistas democrático-liberais, mas as considera insuficientes como forma política, para se chegar à eliminação de um regime econômico de exploração do homem pelo homem.

VII – O objetivo do Partido, no terreno econômico é a transformação da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos meios de produção, que procurará realizar na medida em que as condições do País a exigirem.

X – O Partido admite a possibilidade de realizar algumas de suas reivindicações em regime capitalista, mas afirma sua convicção de que a solução definitiva dos problemas sociais e econômicos, mormente os de suma importância, como a democratização da cultura e a saúde pública, só será possível mediante a execução integral do seu programa.

Programa:

Classes Sociais – O estabelecimento de um regime socialista acarretará a abolição do antagonismo de classe.

Socialização – O Partido não considera socialização dos meio de produção e distribuição a simples intervenção de Estado na economia e entende que aquela só deverá ser decretada pelo voto do parlamento democraticamente constituído e executada pelos órgãos administrativos eleitos em cada empresa.

Da Propriedade em Geral – A socialização realizar-se-á gradativamente, até a transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas, mantida a propriedade privada nos limites da possibilidade de sua utilização pessoal, sem prejuízo do interesse coletivo.

Da Terra- A socialização progressiva será realizada segundo a importância demográfica e econômica das regiões e a natureza de exploração rural, organizando-se fazendas nacionais e fazendas cooperativas, assistidas estas, material e tecnicamente, pelo Estado. O problema do latifúndio será resolvido por este sistema de grandes explorações, pois assim sua fragmentação trará obstáculos ao progresso social. Entretanto, dada a diversidade do desenvolvimento econômico das diferentes regiões, será facultado o parcelamento das terras da Nação em pequenas porções de usufruto individual o­nde não for viável a exploração coletiva.

Da Indústria – Na socialização progressiva dos meios de produção industrial partir-se-á dos ramos básicos da economia.

Do Comércio -A socialização da riqueza compreenderá a nacionalização do crédito, que ficará, assim, a serviço da produção.

Jesus Carlos! Pelo visto eu estava enganado. O homem deve ser o maior socialista desde Salvador Alende. Como não fiz parte da geração que queria mudar o mundo, percebi que não poderia perder tamanha oportunidade. Tomarei quatro providências imediatamente:
1- ligarei para a Velhinha de Taubaté e marcarei um chá das cinco;
2- me filiarei imediatamente ao PSB;
3- ligarei para o Stédile e direi que, a partir de hoje, encontro-me a serviço de outro nobre cavaleiro - que enfrentará a questão agrária com mais galhardia;
4- tal qual Sancho Pança, me colocarei à disposição do grande "Socialista do Século XXI" para que enfrentemos juntos os terríveis moinhos de vento capitalistas.

Companheiros: o mal venceu, mas a luta continua!

3 comentários:

Elizabeth disse...

Eu nem vou comentar...
je suis epuisée
mas sim, companheiro, a luta continua

Caseiro disse...

Como diria o Caetano Emanuel, alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial.

Companheira, esqueci de comentar (niilista que sou), mas ontem fiquei feliz com seu elevado estado espírito. Nada como amar os Beatles e os Rolling Stones. Bj!

Elizabeth disse...

"its only rock and roll,but I like it", como repetia sempre meu amigo doido varrido, que virou pastor
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Alf, melhor rir