segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Os diferentões
No início dos anos 80 Eduardo Suplicy chegou ao horário político com uma tartaruguinha e uma ampulheta. Pretendia mostrar, como entoava o jingle de sua campanha, que era "diferente de tudo que está aí".
No caso do senador, o objetivo foi cumprido. Três décadas depois, ninguém -situacionista ou oposicionista - duvida que Suplicy é mesmo diferentão. Muitos chegam a dizer que comprariam um carro usado do senador, visto como uma espécie de "café com leite" no tão nefasto cenário político.
Muitos tentaram trilhar o mesmo caminho. A grande maioria utiliza os poucos minutos do horário político para tentar emplacar um bordão engraçadinho e passar uma mensagem muito objetiva: basta das velhas raposas! Vote em mim se quiser renovar o jeito de fazer política no Brasil.
Dentre os chamados "renovadores", há dois grandes grupos: os debochados, que esperam conquistar o chamado "voto de protesto", e os que se levam a sério. Sobre a primeira categoria nem vale a pena falar. Já a segunda, abriga de tempos em tempos figuras no mínimo intrigantes.
Os "renovadores que se levam a sério" costumam se achar realmente diferentões. Não se enquadram nos padrões sociais vigentes, são transgressores, criaturas a frente do seu tempo. São mais sensíveis, mais engajados. E são honestos, acima de qualquer suspeita. Entraram na política por simples abnegação.
Dentre eles, destacam-se Fernando Gabeira e Soninha Francine. Ambos são jornalistas e envergam a bandeira do momento: salvemos o planeta! Gabeira está na estrada há bastante tempo. Foi militante de esquerda e até há bem pouco tempo parecia não ter grandes pretensões políticas, exercendo dignamente vários mandatos como deputado. Soninha trocou há alguns anos as páginas de esportes de um jornalão e a MTV pela vereança na desvairada.
Mas ambos andam cada vez menos diferentões. Gabeira tentou tornar-se alcaide da cidade maravilhosa costurando alianças no mínimo exóticas.Perdeu por muito pouco. Soninha tentou a prefeitura da desvairada e não deu nem para o começo. Mas nenhum dos dois ficou de mãos abanando. Gabeira aprofunda as tenebrosas alianças e está cotadíssimo para abocanhar o Palácio da Guanabara. Soninha aliou-se a Kassab - criatura abominável inventada por Serra - e pendurou-se na subprefeitura da Lapa, onde faz um trabalho digno de seu padrinho, que diz que o caos que assolou São Paulo é de responsabilidade de São Pedro.
Gabeira e Soninha orgulham-se de trocar seus carros por bicicletas - duvido que Soninha tenha conseguido fazer isso nas últimas semanas. Mas o que mais há de diferente nos dois?
Suplicy ganhou de Paulo Francis o cruel apelido de "mogadon", famoso psicotrópico. De fato o nobre senador muitas vezes parece ter descido de uma nave espacial. No governo Lula, tem se calado e feito ouvidos moucos diante de situações que exigiam posicionamentos firmes - acho mesmo que ele deveria ter deixado o PT quando o fizeram Plinío de Arruda Sampaio, Chico de Oliveira e tantos outros.
Mas quando olho para criaturas como Gabeira e Soninha, chego à conclusão que o "mogadon" é o único diferentão que ainda merece respeito.
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