sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Diálogos surreais: Telefônica

- Telefônica, Edilaine, boa tarde, em que posso ajudá-lo?
- Boa tarde, Edilaine. Meu nome é Alfredo, eu sou assinante. O número do meu telefone foi alterado sem a minha autorização e eu preciso saber o novo número.
- Senhor, as alterações de número só são feitas a pedido do assinante.
- Pois é. Como é mesmo seu nome?
- Edilaine, Senhor.
- Pois é, Edilaine. Só que a minha ex-mulher, que hoje mora na minha casa e utiliza o meu telefone, resolveu mudar o número para que eu não ligasse mais para lá. Ela mudou o número do meu telefone sem a minha autorização, você entende, Edilaine?
- Senhor, as alterações de número só podem ser feitas pelo assinante, mediante a confirmação de dados cadastrais que só são de seu conhecimento.
- Pois é, Edilaine. Mas a minha ex-mulher, que não sou eu, conseguiu trocar o número. E eu nem estou puto com isso. Até deveria, pois a Telefônica fez uma coisa que não poderia ter feito. Mas tudo bem. Edilaine, só me informe o número novo para que eu possa ligar para a minha filha.
- Eu não posso informar o novo número, Senhor.
- Como assim, Edilaine?
- Senhor, o assinante pediu que o novo número não fosse divulgado...
Até então eu estava inacreditavelmente calmo. Acho que as patuscadas da minha ex-mulher estavam me tornando uma pessoa mais tolerante. Mas tudo tem limite.
- MINHA FILHA, A PORRA DO ASSINANTE SOU EU. EU NÃO PEDI PARA MUDAR PORRA DE NÚMERO NENHUM, ENTÃO COMO É QUE EU POSSO TER PROIBIDO ALGUMA COISA???
- Entendo, Senhor. Mas não posso fazer nada. São as normas.
- QUE NORMAS O CACETE. SERÁ QUE EU VOU TER QUE PERDER O MEU TEMPO PROCESSANDO ESSA EMPRESA DE MERDA?
Quanto mais eu berrava, mais a Edilaine ficava calma, o que me deixou à beira de um colapso nervoso.
- O Senhor deseja mais alguma informação, Senhor Alfredo?
- NÃO, EDILAINE, SÓ DESEJO A PORRA DO NOVO NÚMERO QUE VOCÊS ALTERARAM SEM A MINHA AUTORIZAÇÃO.
- Como eu já disse, Senhor, não é possível atender à sua solicitação, pois o assinante não permite a divulgação do novo número.
- CRIATURA, O QUE EU PRECISO FAZER PARA QUE VOCÊ ENTENDA QUE O DESGRAÇADO DO ASSINANTE SOU EU? SOU EU, EDILAINE, ENTENDEU?
POR FAVOR, TRANSFIRA A LIGAÇÃO PARA O SEU SUPERIOR. E PELAMORDEDEUS, NEM PENSE EM FAZER A LINHA CAIR, HEIM?
- Perfeitamente, Senhor. Um momento.
Minutos depois, quando eu já estava certo de que a Edilaine derrubaria minha ligação, surge a Gláucia.
- Boa tarde, Senhor. Em que posso ajudá-lo?
- Gláucia, espero que a Edilaine tenha te explicado o meu problema e que você possa me informar o novo número do telefone, cuja alteração eu não solicitei.
- Infelizmente eu não posso, Senhor. O assinante proíbe a divulgação.
- PROÍBE O CACETE, MINHA FILHA. EU SOU O ASSINANTE. EU NÃO AUTORIZEI NADA E NÃO POSSO TER PROIBIDO NADA. VOCÊS ATENDERAM A UM PEDIDO DA LOUCA DA MINHA EX-MULHER E FIZERAM O QUE NÃO DEVERIAM TER FEITO. AGORA, ALÉM DISSO, VOCÊS NÃO VÃO ME DIZER O NÚMERO? EU SOU O ASSINANTE. EU, EU, ENTENDEU, EDILAINE?
- Meu nome é Gláucia, Senhor.
- QUE SE DANE O SEU NOME. QUERO A PORRA DO NÚMERO DO MEU TELEFONE.
- Não será possível, Senhor.
- MINHA FILHA, QUE TAL SE VOCÊ CONFIRMAR OS MEUS DADOS CADASTRAIS? MEU RG É TAL, MEU CPF É TAL, O NÚMERO DA MINHA CUECA É TAL.
- Não adianta. Quem me garante que o Senhor é o Senhor?
Naquele momento eu me senti o próprio Kafka. Não havia mais saída. Um muro intransponível surgiu diante do meu nariz.
Para tornar a situação ainda mais surreal, eis que toca o meu celular. Não reconheço o número, mas atendo. Precisava de alguns instantes para pensar em uma resposta para a Gláucia. Era a minha ex-mulher, ligando do meu novo telefone.
- Gláucia, querida, o novo número é 3831-XPTO?
Sem conseguir disfarçar a surpresa, ela sussurra:
- Isso mesmo, Senhor.
- Ok, então VÁ PARA A PUTAQUEAPARIU E LEVE A EDILAINE JUNTO. O ASSINANTE ESTÁ AUTORIZANDO. Boa tarde!

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